B – Meus Estudos

Curso Primário

Eu, com cinco anos de idade, quando ainda morávamos em Bragança, ganhei de presente de meus pais uma “Cartilha do ABC”, ilustrada a cores, com a qual aprendi o abecedário. Minha mãe foi a minha professora. No primeiro ano de Belém, como já disse, com seis anos de idade, fui alfabetizado em aulas particulares com uma vizinha nossa, a Edite, tanto que já era alfabetizado quando me matriculei, no ano seguinte, com sete anos de idade, no “preliminar” (um ano) na Escola Reunida “Gama Malcher” (a minha primeira escola), que funcionava no prédio da Associação Ferroviária (da qual meu pai foi vice-presidente), na Avenida Ceará, bairro de Canudos, onde iniciei meu curso primário, que vim a concluir no Grupo Escolar “Desembargador Augusto Olímpio” situado na mesma avenida. A Diretora do Grupo era a professora Lúcia Teixeira Bentes (irmã de Mário Dias Teixeira, que veio a ser Superintendente da SPVEA, quando eu era técnico do órgão, e, de Irene Teixeira, minha amiga e colega no I.E.P.)[1]. Ao tempo, os grupos escolares de Belém, mantinham, além do curso primário de quatro anos, um quinto ano, que era facultativo, mas, no qual cheguei a me matricular e iniciar a freqüência.

Curso Secundário (ginasial e colegial – grau médio, pré universitário)

Ocorre que, assim que terminei o quarto ano, eu havia feito o exame de admissão ao curso ginasial, tendo sido aprovado. Ante este fato, abandonei o “quinto ano” e me matriculei na primeira série ginasial no Colégio Salesiano “Nossa Senhora do Carmo”, onde freqüentei apenas um ano, tendo, a meu pedido, sido transferido para o Colégio Estadual “Paes de Carvalho”-CEPC, onde cursei o resto do secundário. Nesta época, os jovens que cursavam o ginasial e o colegial nos bons colégio   – como o CEPC, o Colégio Moderno, o Colégio Nª Sª de Nazaré e o Instituto de Educação do Pará-IEP, para citar quatro casos exemplares de Belém -, conquistavam um conhecimento enciclopédico básico nos diversos campos dos conhecimentos humanos. Os professores catedráticos eram concursados, defendiam teses, e dos alunos era exigido muito estudo. Estudava-se Filosofia, Língua Portuguesa e Literaturas Brasileira e Portuguesa, Língua e Literatura Francesa, Língua e Literatura Inglesa, Espanhol, Latim, História Geral e do Brasil, Geografias Geral, da América e do Brasil, Matemática, Ciências Naturais, Biologia, Física, Química, Desenho, Canto Orfeônico, Educação Física, Trabalhos Manuais, enfim, um mergulho no universo de conhecimentos acumulados pelo homem ao longo dos séculos. O “ginásio” e o “colégio” desvendavam para o jovem um grande acúmulo de saberes e  preparavam-no, por um lado, para a busca por si de mais e novos conhecimentos, e, por outro lado, para partir rumo à formação profissional de nível universitário.

Passo, agora, à tentativa de rememoração de professores com os quais trilhei aqueles caminhos da conquista de saberes. É um esforço de registro, nestas memórias   – para que fique documentado -, dos nomes de alguns mestres com os quais tive o privilégio de conviver na adolescência.

Com relação ao Colégio do Carmo (ano de 1944), lembro dos nomes de poucos professores, entre os quais um mestre que me causou forte impressão e me conduziu no salto qualitativo da passagem dos estudos do nível primário para o secundário: Eduardo Braga (História Geral); lembro, também do “seu” Miguel [irmão leigo] (Francês), do “seu” José [irmão de batina] (Matemática), do pe. João (Religião), do pe. Filinto (Português), e de Maria Luzia Vella Alves (Canto Orfeônico).

No CEPC (1945 – 1951), fui aluno de alguns professores que marcaram   – alguns mais outros menos –    minha formação humanística, tais como Maria Annunciada Chaves (História do Brasil), Raimundo Avertano Barreto da Rocha (Filosofia), Aloísio da Costa Chaves (Geografia do Brasil), Remígio Fernandes (Latim), Francisco Paulo do Nascimento Mendes (Literaturas Portuguesa e Brasileira), Bolívar Bordalo da Silva (História Geral), Orlando Bitar (Latim), Hélio Frota Lima [“Pomboca”] (Latim), Maria Amélia Ferro de Souza (Geografia Geral), Américo Bringel Guerra (brilhante professor de Literatura Francesa no Curso Clássico, colegial; dava suas aulas inteiramente em língua francesa), Luis Gonzaga Baganha[2]  (Matemática), Antônio Brasil (Ciências), Mr. Hugh Moresby Kirby (Inglês), Omir Alves (Matemática e Desenho), Antônio Gondin Lins (Português), B. Sá (Química), Pedro Amazonas Pedroso (Biologia), Maria Luzia Vella Alves (Canto Orfeônico), Ângelo Nascimento (Desenho), Rui da Silveira Brito (Matemática), Clóvis Silva Morais Rego (História do Brasil e Português), Iolanda Chaves (Francês), Paula Chaves [que veio a ser minha aluna na Licenciatura da Faculdade de Filosofia] (Geografia), Helena Montero Valdez (Espanhol), Alírio César de Oliveira (Matemática), Virgínio Ferreira (Educação Física), Mr. Klid Skeet [?] (Inglês), Aulomar Lobato (História Geral), Padre Serra (Religião), Emiliana Sarmento Ferreira [aquela que me reprovou, cf. abaixo] (Francês), e outros cujos nomes não recordo.

Também me formei em Técnico em Contabilidade, pela Escola Técnica de Comércio da Associação Comercial do Pará. Destaco entre os professores desta escola: Gabriel Lage (Contabilidade), Avertano Rocha (Biologia), Cássio Vasconcelos (Princípios de Direito), Mário Platilha (Contabilidade), Klid Skeet [?] (Inglês), entre outros, cujos nomes não lembro.

O estudo das contabilidades não foram realizados com ânimo profissional. Cursei-os no âmbito do ânimo coletivo de um grupo de colegas. Porém, é de justiça afirmar que esses conhecimentos me foram úteis, informalmente, ao longo da vida.

Nesses cursos de grau médio, principalmente no CEPC, onde me demorei sete anos, entrei em contato com os saberes universais. Eles, além de desvendarem o conhecimento do ser humano enquanto ser, da vida, do transcorrer histórico, do meio natural em que vivemos e das formas de conhecê-lo, tive despertado em mim as primeiras indagações, as primeiras dúvidas epistemológicas, teológicas e filosóficas. Neles encontrei conhecimentos que me deram certezas, saberes e razões de indagações, motivos para procurar desvelar campos cada vez mais amplos da episteme e da doxa, o ânimo da agonística, a busca do conhecimento dos fenômenos e dos númenos (g. noûmenon), o prazer do discurso da razão, do logus, da importância da descoberta de sempre novos paradigmas, de novos arquétipos, ou seja, dos saberes imanentes à condição humana.

Estudei apenas um ano no Colégio do Carmo, porém, este ano foi muito importante na constituição de minha vontade de saber, de meu elenco axiológico e da phronesis, da prudência  e, também, da humildade, em face dos conhecimentos e da vida.

Porém, foi no Colégio “Paes de Carvalho” que sedimentei esses saberes, esses comportamentos e atitudes vis à vis a vida, a sociedade, a coletividade humana. No CEPC desenvolvi valores políticos, o sentimento de justiça social e de solidariedade, a vontade, o ânimo de ser um combatente pelas causas de meu país e de meu povo. Vivi e participei intensamente das menores e das maiores lutas que ocorreram naquele tempo, desde a campanha pela gratuidade do ensino público, a pela reforma do uniforme escolar, até a luta em defesa do petróleo e das demais riquesas minerais nacionais, pela criação da Petrobrás, a luta em defesa da soberania nacional e o movimento pela Paz Mundial. Os sete anos do grau médio me propiciaram a constituição de um complexo de conhecimentos, de intuições especulativas e de valores que me orientaram e conduziram pelo resto da vida, em uma fusão substancial do espaço-tempo da essência humana.

Formação Universitária

Terminado o secundário, fiz o Curso de Direito, como o Osiris, meu irmão, na Faculdade de Direito do Pará. Nesta escola de ensino superior, três professores marcaram, fortemente, o meu curso, pela sua competência intelectual e brilho didático: Daniel Coelho de Souza (Introdução à Ciência do Direito), Orlando Bitar (Direito Constitucional) e Octávio Mendonça (Direito Internacional Privado); fui aluno, também, de Octávio Meira (Direito Administrativo), Cécil Meira (Direito Penal), Clóvis Meira (Medicina Legal), Lourenço Paiva (Direito Penal), Antônio Gonçalves Bastos [o Diretor da Faculdade] (Direito Processual Civil), Sadi Montenegro Duarte[3] (Direito Civil), Miguel Pernambuco Filho[4] (Economia Política), Raul Braga (Direito Romano), Ernesto Chaves Neto (Teoria Geral do Estado), Benedito Lobão Pereira (Direito do Trabalho), Cássio Vasconcelos (Direito Processual Penal), entre outros, como Cordovil Pinto (Direito Comercial). Aqueles três primeiros professores, além de alguns outros, foram homenageados com destaque pela turma em nossa colação de grau, sendo que o professor Orlando Bitar foi o nosso paraninfo[5]. Quando fomos à casa do professor Octávio Mendonça dar-lhe conhecimento de que ele era um dos nossos homenageados, fui eu o porta-voz da turma ao proferir a comunicação e a justificativa da distinção.

Mais tarde, ingressei no Curso de Letras Clássicas, na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras-FFCL-PA, onde fui aluno de F. Paulo Mendes (Literatura Portuguesa), de Rui Barata (Literatura Brasileira), de Ápio Campos (Filologia Românica), de Albenise Chaves (Literatura Romana; ela havia sido minha aluna no Curso de Licenciatura) e estudei Latim e Grego com dois padres (cujos nomes, lamentavelmente, não recordo, mas que haviam sido meus alunos na Licenciatura), além de outros professores, em diferentes disciplinas, entre os quais Rômulo Souza (que havia sido meu colega de turma na Fac. de Direito). Todos esses professores, enquanto tal, eram, também, meus colegas na FFCL, de vez que eu, durante esse período, era aluno e docente da Faculdade. Um de meus colegas de turma, no Curso de Letras Clássicas, foi o Amílcar Tupiassu (que, também, era professor da Faculdade). Abandonei esse curso antes do final do segundo ano; eu era um bom aluno, porém, não tinha mais tempo para estudar Latim e Grego.

Quando eu me encontrava cursando o Curso Clássico (segundo ciclo do Secundário), uma das matérias do currículo era Filosofia, que era ministrada com sucesso pelo professor Avertano Rocha (o pai, naturalmente; ele era médico e advogado). Nesse tempo, pensei em fazer o Curso de Filosofia em nível superior. Porém, quando concluí o secundário, este curso ainda não se encontrava em funcionamento no Pará.

Ao ingressar como aluno na Faculdade de Direito, em 1952, no Pará não havia outras alternativas de estudos em nível superior, além dos tradicionais cursos de direito, medicina, engenharia, odontologia e farmácia, além das formações em agronomia, serviço social, química industrial e enfermagem. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras apenas iniciou seu funcionamento em 1955. Até então, os jovens que tinham interesse e ânimo de estudar filosofia, literatura, história, sociologia, antropologia social e cultural, enfim, humanidades, se dirigiam, inevitavelmente, ao curso de direito, onde encontravam alguns estudos afins aos seus interesses intelectuais. Foi neste contexto que ingressei na Faculdade de Direito. Não estudávamos, no curso de direito, especificamente aquelas disciplinas. Mas, na matéria Introdução à Ciência do Direito, na forma como ela era ministrada pelo então professor, encontrávamos estímulos por saberes filosóficos em geral, em especial, a filosofia do direito, a ética, e a abordagem sociológica e antropológica de conceitos jurídicos. Também, aqueles saberes das humanidades eram encontrados permeando os campos de outras disciplinas do curso, tais como o Direito Romano, o Direito Constitucional, o Direito Penal, o Direito Civil, o Direito Administrativo, o Direito Internacional Público, o Direito Internacional Privado, a Teoria Geral do Estado,  a Economia Política, além de outras. Ao longo do curso, no contato com professores incentivadores e exemplares, e com os saberes jurídicos, passei a desenvolver certa disposição para vir a exercer a profissão de advogado. No quarto ano, inscrevi-me na Ordem dos Advogados do Brasil – Secção do Pará como solicitador. Formado, minha inscrição na Ordem passou à categoria de advogado. Desde os tempos de solicitador busquei, de alguma forma, e na medida do permitido, exercer tenuemente a advocacia e fui, por breve tempo, Promotor Público da Comarca da Vigia, na Zona do Salgado. Concluído o curso e, não mais integrando o ministério público, passei a trabalhar em um escritório de advocacia de um  importante advogado amigo[6]. Seis meses depois de iniciadas essas atividades profissionais, depois de muito trabalho em audiências no forum civil, no trabalhista e, também, no escritório, renunciei ao mesmo, para me dedicar, de forma permanente, ao magistério  e às pesquisas, campos onde fiquei pelo resto da vida, mesmo com as pedras do caminho durante a ditadura. O curso de Letras Clássicas foi bem vindo. Belíssimo curso. Mas   – lamentei pelo resto da vida -, não tive condições temporais de concluí-lo, em face de minhas demais responsabilidades profissionais.

Depois, vieram os estágios e os cursos de pós-graduação: o mestrado, o doutorado e o pós-doutorado, na área fértil e estimulante da Antropologia Social e Cultural.

Colegas

Para documentação histórica, de memória, também, registrarei nomes de alguns colegas ao longo dos anos de estudante. Que me perdoem aqueles cujos nomes me fogem da memória e são muitos, a grande maioria. No primeiro ano do Colégio do Carmo: Roberto A. de O. Santos, Carlos Acatauassu Nunes (o melhor aluno da turma), Fernando Augusto (…)[7], Tomás de Aquino (…) (de uma família bragantina), José Dahas[8], Bóris (…)… No Colégio “Paes de Carvalho”: Miguel Arakén Sabá de Almeida, João Claro do Rosário Neto[9], José de Ribamar Darwich, Carlos Alberto Dias de Andrade Monteiro[10], Wladir Cavalcante de Lima[11], Miguel de Santa Brígida, José Otávio Mescouto, José Guilherme Mescouto, Valquíria Leitão, Nadim Darwich Zacarias, Lourival Barbalho, Lucival Barbalho, Leo Matos, Orlando Vieira, Nanette Guimarães, Shalimar de Almeida Contente e muitos outros. O Octávio Avertano Barreto da Rocha, o Oliveira Bastos, o Raimundo Cunha, a Marina Mata, o Mário Faustino dos Santos e Silva  foram meus contemporâneos no CEPC, mas não colegas de turma. Dos colegas de turma na Escola Técnica de Comércio, lembro de João Claro do Rosário Neto, Raimundo de Souza Cunha, Carlos Platilha, Carlos Alberto Dias de Andrade Monteiro e de Amílcar Martins[12].

Colegas na Faculdade de Direito (turma que veio a bacherelar-se em 1956): João Claro do Rosário Neto (apenas no primeiro ano), Mário Faustino (apenas no terceiro ano), Amílcar Martins (apenas no primeiro ano), Almir Pereira (apenas no primeiro ano), Eva Maria (…) (apenas no primeiro ano); [que me seja permitido, como membro da turma, acrescentar aqui o meu próprio nome, Orlando Sampaio Silva], e os demais ao longo de todo o curso: Aderbal Meira Mattos (entiado do professor Orlando Bitar), João Alberto de Paiva (filho do professor Lourenço Paiva), Marina Matta, Nelson de Figueiredo Ribeiro[13], Maximino Porpino Filho, Maria Cecília (…), (?) Faciola, Maurício de Souza Rodrigues, Vander Xavantes, Rômulo Souza, Capitão Lemos (da Polícia Militar), Vicente Braga Elói, Avelino Henrique dos Santos, Rui Republino da Silva, José de Ribamar Darwich, Raimundo de Souza Cunha, Irineu Bentes Lobato, Oswaldo Nasser Tuma, Nilson Fialho, Wilson Souza, Valdemar Filgueiras Vianna, Jorge de Souza Ramos, Sousange Souza, Pontes Pinto, Orlando Vieira, Nanette Guimarães, Raimundo Medeiros da Silva, Rodrigo Cruz, José Otávio Mescouto, Raimundo Noleto e outros diletos colegas.

Quando eu estava cursando o primeiro ano do Curso de Direito, em 1952, encontravam-se no quinto e último ano do Curso alguns colegas cujos nomes se encontram em minha memória: Orlando Teixeira da Costa, Benedito José Viana da Costa Nunes, José Maria Bittencourt Alves da Cunha, Diogo Costa, Sílvia Silva Nunes, Eva Andersen (além de outros que não vêm à minha lembrança).

Canto

Desde o primeiro ano ginasial, eu integrara os grupos de canto orfeônico dos dois colégios em que estudei. O conjunto de canto orfeônico do CEPC se apresentava, todos os anos, no Teatro da Paz, e eu sempre participava destes espetáculos culturais. O canto orfeônico era uma disciplina do Curso Secundário desde a ditadura de Getúlio Vargas, tendo sido introduzida no currículo por influência direta do compositor e maestro Heitor Villa Lobos. Quando eu estava com 19 anos de idade, estive estudando canto lírico no Conservatório “Carlos Gomes”, a única escola de ensino das artes musicais eruditas em Belém, à época. Este curso, normalmente, durava seis anos, durante os quais, algumas das matérias do currículo eram piano, solfejo, melodia, ritmo, sinfonia, história da música etc. Porém, não fui além do primeiro ano nesses estudos. Matriculei-me no Conservatório a convite de sua diretora, profª Vella Alves, que me concedeu uma bolsa de estudo. Minha professora de canto lírico no Conservatório foi a cantora Helena Coelho, filha do ex-governador João Coelho e que o meu pai conhecera, quando ambos eram jovens, na propriedade da família Coelho, em Santa Isabel, cidade da Zona Bragantina. Minha professora de solfejo no Conservatório foi a senhora mãe do colega Roberto Araújo de Oliveira Santos. Naquele ano, em um espetáculo do Conservatório “Carlos Gomes”, no Teatro da Paz, fui um dos alunos que se apresentaram; cantei solo a canção napolitana “A Santa Lucia” (em italiano) com acompanhamento de piano. Nesta encenação, fui o premiado com o primeiro prêmio para cantores, pelo governo do Estado (o governador esteve presente), tendo recebido a distinção em dinheiro diretamente do governador, General Alexandre Zacarias de Assumpção. Abandonei este estudo porque estava convencido de que eu não seria um cantor profissional de ópera. Assim, continuar o curso seria perda de tempo, embora eu tivesse uma voz reconhecidamente boa de barítono atenorado, como era classificada, porque eu conseguia exprimir-me no canto com todas as notas de escalas musicais de um barítono, podendo atingir mais algumas notas altas de tenor. Lembro os nomes de alguns colegas de estudos no “Carlos Gomes”: Lourdes Soares (canto) , Lourdes Barros (canto), Luíza Silva (canto e piano; tia da esposa do Jaime Seráfico) e Falesi (piano).

Teatro

Na adolescência, pertenci a um grupo de teatro, o Teatro do Amador, para o qual fui convidado pelo João Rosário Neto, meu sobrinho e colega, que dele fazia parte. Quando ingressei nesse grupo de teatro, o diretor do grupo era o Camilo Silva Montenegro Duarte, estudante do Colégio Nª Sª de Nazaré e meu aparentado por afinidade. Como ator integrante deste grupo teatral, participei do elenco de três peças, que foram apresentadas no Teatro da Paz, com a assistência de direção da professora Margarida Schiwazapa.


[1] A professora Lúcia Bentes e sua família viajaram de muda para o Rio de Janeiro em viagem de navio em plena guerra (II Guerra Mundial), quando os submarinos alemães estavam afundando os navios mercantes brasileiros. Alertada  por colegas para o perigo da viagem, ela, simples e corajosamente, disse que ia enfrentá-lo. Assisti esse diálogo preocupado, pois, além de gostar muito da professora, eu acompanhava com grande interesse os acontecimentos relacionados com a guerra.

[2] Quando estávamos no primeiro ano do Curso Clássico, nosso mestre de Matemática era o professor Baganha, que era dotado de um didatismo espontâneo e intuitivo, que tornava cristalina e de fácil compreensão sua árida matéria. Ocorre que, como alunos do Clássico, estávamos mais interessados nos estudos de filosofia, de história e das literaturas. Em face deste cenário de valorização e opções intelectuais, uma de nossas colegas passou a ter atitudes agressivas contra o professor de Matemática, gestos e palavras, que raiavam pelo preconceito racial, pois Baganha era negro. O professor não resistiu à referida atitude da discente, mas não propôs sua punição e optou por pedir sua substituição por outro professor, Alírio César de Oliveira, para perda da turma, pois este não tinha as mesmas excelentes qualidades didáticas de que era possuidor Baganha.

[3] Tio do Camilo Silva Montenegro Duarte.

[4] De quem fui colega no Banco da Amazônia.

[5] Nossa turma, em reunião, decidiu, por maioria, não homenagear nenhuma autoridade constituída. Optamos por homenagear apenas professores. Era um posicionamento político de protesto. Porém, Nanete Guimarães, a colega, que estava encarregada de levar as fotografias dos formandos e dos homenageados para a publicação na imprensa no dia da formatura, tinha sido voto vencido ao tomarmos aquela decisão. Então, em uma atitude desleal e aética, sem que soubéssemos, ela levou aos jornais as fotos das autoridades, que foram publicadas ao lado dos professores homenageados.

[6] Escritório de Advocacia Egídio Sales. Egídio havia sido colega de turma, na Faculdade, de meu irmão Osiris.

[7] Carlos Acataussu Nunes, Fernando Augusto, eu e o Roberto Santos éramos os melhores alunos de nossa turma no 1° ano ginasial. O Acatauassu foi imbatível no primeiro lugar em aproveitamento. O Fernando Augusto e eu, em alguns meses, nos alternamos no 2° e no 3° lugares nas notas mensais. Eu e o Roberto Santos disputamos o 3° lugar na média geral final do ano, média no cálcula da qual entravam as notas obtidas nas provas do primeiro semestre e das provas finais. No entanto, consolei-me por ter ganho, no final do ano, a medalha do primeiro lugar na matéria Religião.

[8] Que veio a ser meu colega de turma no CPOR.

[9] O João Rosário era meu sobrinho, mesmo sendo mais velho do que eu onze meses, nascido em Bragança em 1931, filho de minha irmã Olga.

[10] Filho de portugueses. Um ótimo poeta.

[11] Meu primo em terceiro grau, pois era filho de meu primo em segundo grau João Cavalcante de Lima, poeta; o Wladir fez carreira militar no Exército tendo atingido o generalato, Gen, de Bigada. Tinha um irmão que veio a ser padre.

[12] Amilcar, bragantino e funcionário do Banco do Brasil, veio, mais tarde, a ser Diretor desta instituição bancária em âmbito nacional.

[13] O Nelson Ribeiro, muitos anos depois, após a ditadura militar, veio a ser Ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário-MIRAD, no governo José Sarney, tendo eu sido seu assessor especial para assuntos indígenas no Ministério.